Dólar mantém-se estável e Bolsa sobe com inflação mais fraca em maio
Moeda americana teve leve alta de 0,14%, a RS 5,57, e o Ibovespa avançou 0,54%, com dado sobre desaceleração do IPCA e negociações EUA-China
atualizado
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Os agentes econômicos receberam de forma positiva os dados sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio, divulgados nesta terça-feira (10/6). E essa recepção refletiu-se nos mercados de ações e, em menor medida, no câmbio. Com isso, o dólar à vista valorizou-se 0,14% (na prática, manteve-se estável) frente ao real, cotado a R$ 5,57. Já o Ibovespa, o principal índice da Bolsa brasileira (B3), encerrou o pregão com alta de 0,54%, aos 136.437 pontos.
No caso do IPCA de maio, ele ficou em 0,26% (a menor taxa para o mês desde 2013), com uma inflação de 5,32% no acumulado em 12 meses. Os números esperados pelo mercado eram, respectivamente, 0,34% e 5,40%.
Anderson Silva, líder da mesa de renda variável e sócio da GT Capital, avalia que o Ibovespa “tem respeitado a região dos 135 mil pontos” por dois motivos. “Temos cerca de 25 empresas que representam cerca de 75% do peso no índice e, neste momento, há uma espécie de ‘gangorra’. As companhias ligadas a commodities pressionam o índice para baixo, enquanto o setor bancário o puxa para cima. Nesse contexto, o mercado anda de lado nessa faixa de preço.”
Hoje, nota Silva, os agentes econômicos “reagiram bem aos dados do IPCA mais fracos”. “Isso pode antecipar cortes na taxa básica de juros”, afirma. “Acredito que o Ibovespa permaneça lateral nas próximas semanas e o dólar seja negociado entre R$5,60 e R$5,70.”
Apostas na queda da Selic
O economista Alexandro Nishimura, diretor da Nomos, concorda que o “Ibovespa fechou em alta, sustentado pela desaceleração do IPCA de maio”. “Ela reduziu as apostas em uma nova elevação da Selic na próxima reunião do Copom”, diz. “Esse movimento favoreceu a valorização do real e a queda dos juros futuros, impulsionando ações mais sensíveis ao ciclo econômico. O índice chegou a subir mais de 1% na máxima do dia, também amparado pela valorização do petróleo, pelo bom desempenho da Petrobras e por notícias favoráveis sobre o diálogo comercial entre Estados Unidos e China.”
A curva de juros futuros se deslocou para baixo ao longo de toda a extensão, com maior intensidade nos vértices intermediários e longos. A leitura qualitativa do IPCA trouxe sinais positivos, como menor difusão de preços e arrefecimento em bens industriais e núcleos de inflação — apesar de os serviços subjacentes continuarem pressionados. Com isso, o mercado ou a precificar uma menor probabilidade de aperto monetário adicional, favorecendo o alívio na curva.
Longe da meta
Nishimura pondera que, apesar do alívio momentâneo trazido pelo IPCA, o “dado não altera substancialmente o dilema central da política monetária”. “Ele é uma inflação ainda distante da meta e o agravamento das incertezas fiscais”, afirma. “O mercado celebrou a desaceleração pontual, mas ignorou o fato de que o núcleo de serviços segue resiliente. A fragilidade do ambiente fiscal continua sendo um peso para os ativos locais, enquanto a dependência de fatores externos favoráveis apenas expõe a vulnerabilidade estrutural da economia brasileira.”
Bruno Shahini, especialista em investimentos da fintech Nomad, é mais um analista a destacar o peso da inflação no comportamento do mercado nesta terça-feira. “No âmbito doméstico, o IPCA de maio trouxe alívio ao mercado, que reagiu reduzindo as apostas em uma nova alta da Selic na próxima reunião do Copom. A curva de juros ainda precifica uma elevação de 0,25 ponto, mas cresce a percepção de que o ciclo de aperto monetário está próximo do fim.”
EUA e China
Ele observa que, ainda assim, o diferencial de juros entre o Brasil e as economias centrais segue elevado, o que mantém os ativos brasileiros atrativos sob a ótica do capital estrangeiro e vem sustentando a valorização do real — que, na sessão de hoje, perde valor marginalmente frente ao dólar, mais por ajustes técnicos, dado o desempenho positivo da Bolsa e da curva de juros.
“No exterior, o destaque ficou com as negociações entre EUA e China, que, apesar de distantes de um desfecho, alimentam o apetite global por risco”, afirma Shahini. “Os sinais de diálogo têm sido suficientes para impulsionar os preços de commodities como o petróleo e beneficiar as bolsas emergentes e os mercados americanos.”